ENEFAR NA LUTA PELA DEFESA DO ESTUDANTE DE FARMÁCIA
Vinícius Pereira Leitão, coordenador de Finanças da Executiva Nacional dos Estudantes de Farmácia (Enefar), fala a Escola dos Farmacêuticos e Fenafar
Confira entrevista com Vinícius Pereira Leitão, coordenador de Finanças da Executiva Nacional dos Estudantes de Farmácia (Enefar), entidade que existe há mais de 37 anos, e que surgiu a partir da organização dos estudantes em um Encontro Nacional dos Estudantes de Farmácia (Enef), que acontece anualmente. Vinícius, 19 anos, está no 3º ano do curso de Farmácia na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, e divide a coordenação nacional da entidade com outros cinco estudantes. Sua gestão começou em outubro de 2013 e se encerra em outubro deste ano. Antes disso, entre julho e agosto, os estudantes farmacêuticos elegem a nova coordenação. Ele conversou com a Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar) sobre a história da Executiva, suas bandeiras de luta e o panorama das instituições.
Fenafar: Como é a atuação da Enefar?
Vinícius Pereira Leitão: Atualmente, sou um dos seis coordenadores nacionais da Enefar da gestão 2013 / 2014. A Executiva Nacional dos Estudantes de Farmácia sempre esteve na luta por um sistema de saúde público, com qualidade e na defesa da profissão farmacêutica e também discutindo a vida na universidade, como os estudantes se relacionam e como tentam melhorar a realidade das universidades. A Enefar é fruto do movimento estudantil de farmácia, uma consequência natural da mobilização dos estudantes que perceberem a necessidade de se organizar para se defender, se organizar para lutar por essas mudanças necessárias na vida do estudante.
O movimento se articula nos centros acadêmicos das faculdades, com debates e conversando com os estudantes para sensibilizá-los e informa-los para ter uma atuação política para você não passar simplesmente pela universidade e ficar somente na sala de aula, mas sim atentar para outras questões que permeiam a vida do farmacêutico. A Enefar teve um papel fundamental na formação crítica e humanista dos estudantes que já estão formados. Muitos deles adentram no movimento sindical. A Enefar e a Fenafar sempre foram entidades parceiras, promovendo lutas em conjunto como, por exemplo, o movimento que reivindica a farmácia como estabelecimento de saúde e não somente como um local de comércio, como é hoje; e também apoiamos a campanha pela jornada de 30 horas semanais.
Fenafar: Qual o panorama do movimento estudantil nas instituições públicas e privadas?
Vinícius: São mais de 400 cursos de farmácia em todo o país e a grande maioria são de faculdades privadas. Historicamente, o movimento estudantil é mais forte nas universidades públicas, onde é possível circular livremente, onde já há um movimento consolidado. Já nas instituições privadas as organizações políticas são impedidas de mobilizar em sala de aula, nos corredores, justamente porque são as entidades estudantis que vão orientar os estudantes a reivindicar direitos que vão mexer diretamente no lucro da instituição, como aumento abusivo de mensalidade e matrícula.
Mas mantemos um diálogo em alguns cursos e já há uma mobilização nesses espaços privados. Os estudantes estão se envolvendo mais, participando dos encontros nacionais e nos Conefs, que são os Conselhos Nacionais de Entidades Estudantis de Farmácia.
Fenafar: Fale mais sobre os Conefs.
Vinícius: É no Conef que os centros acadêmicos discutem e deliberam sobre os assuntos da executiva nacional. É o segundo maior espaço de luta dos estudantes de farmácia, depois do Enef. O 89º Conef ocorreu entre 20 e 26 de janeiro, em Ouro Preto (MG) e teve como tema a indústria de agrotóxicos, o modelo de farmácias e as propostas para o encontro nacional, que será no meio do ano. Enquanto o Enef acontece anualmente, o Conef acontece bimestralmente, quatro vezes ao ano. Já o último Enef foi em Curitiba (PR) e contou com a participação de cerca de 500 estudantes de diversos estados, muitos vindos das particulares.
O Conef de outubro é o momento em que assumem os coordenadores nacionais e os sete coordenadores regionais, eleitos no Enef.
Fenafar: Quais as principais bandeiras de luta da Enefar?
Vinícius: A defesa do Sistema Único de saúde (SUS), público com qualidade, que atenda o controle social efetivo; um novo modelo de farmácia como estabelecimento de saúde, sem a lógica comercial; aprovação do piso e o reconhecimento do farmacêutico como um profissional de saúde, que atue como integrante da equipe multidisciplinar, valorização salaria, aprovação do piso, defesa da universidade pública de qualidade com acesso a todos.
Fenafar: Como você avalia a jornada de junho? Como os estudantes de farmácia participaram?
Vinícius: Em Curitiba todos os estudantes da Enefar e do Centro acadêmico foram às ruas levando suas bandeiras na área da saúde e da valorização do farmacêutico. Eu avalio que a população viu que algo não está certo. Só que ela ainda não conseguiu visualizar quais os empecilhos na vida dos trabalhadores e da população em geral. Não foi uma mobilização consciente, organizada. Foi muito mais por demandas individuais, até mesmo por falta de um diálogo com as entidades organizadas como sindicatos e o movimento estudantil, levaram para às ruas pautas vazias, como “Eu quero saúde”. Mas querer saúde todo mundo quer, qual saúde você quer. Privada ou pública? Também a mídia atrapalhou muito, tentando diminuir ou desmobilizar as manifestações. Mas foi uma oportunidade de aprender e renovar nossa forma de se organizar e lutar. Temos que levar o debate para uma parcela maior da população.
Fenafar: Você citou a mídia. Você presenciou manifestações contrárias à mídia tradicional hegemônica? A população está se conscientizando sobre a manipulação das informações?
Vinícius: Existe um núcleo das mobilizações que é bastante consciente, mas tem gente que, mesmo sem ter o total entendimento, tem uma percepção que algo está errado e aí ocorreram diversas manifestações contrárias às grandes corporações midiáticas, com depredação de carros, hostilização de repórteres. Aos poucos as pessoas estão entendendo que são as grandes corporações que atrapalham suas vidas. Então, não é uma atitude consciente pela democratização da mídia, mas já se sabe que a mídia não é imparcial, está sempre defendendo o lado do mais forte e não da população, que não se vê representada em sua programação. A democratização da mídia tem sido uma bandeira cada vez mais erguida pelos movimentos sociais, sindicatos. É preciso combater a concentração da informação, que só serve para manter as formas de poder hoje na sociedade.
Deborah Moreira