ENCERRAMENTO DO 5° CONGRESSO URM DESTACA CARTA DE SÃO PAULO
A última atividade do 5º Congresso Brasileiro sobre o Uso Racional de Medicamentos
teve a participação de Donna Marie Cookmeyer, diretora de Integração e Pesquisa da Duke University School of Medicine, nos Estados Unidos.
Responsável pela avaliação científica e ética dos ensaios clínicos da instituição, Donna apresentou os avanços de uma novidade da área: a farmacogenética.
Como uma espécie de filtro, a farmacogenômica estuda a relação entre os medicamentos e o metabolismo de grupos de indivíduos geneticamente parecidos, de modo a desenvolver medicamentos mais específicos para cada pessoa.
Parece filme de ficção. “Primeiro nós fazemos a caracterização da doença, e depois identificamos a informações genéticas do paciente para entender melhor como tratar a doença dele. Sabendo essa informação, nós podemos até prevenir essa doença em outras pessoas”, explica Donna.
O conceito está diretamente ligado a segurança do próprio paciente. Uma vez que ele tem um remédio projetado de acordo com suas informações genéticas, é possível reduzir os riscos à sua saúde, e extinguir reações adversas e estimular o uso racional.
“O uso racional de medicamentos é muito novo nos Estados Unidos, estamos nos primeiros estágios, mas eu fiquei surpreendida que o FDA (Food and Drug Administration) já aprovou 160 drogas que tem testes farmacogenéticos”, confessou.
A inovação da farmacogenética
Segundo Donna, com o uso dos testes foi possível “garantir que os pacientes sejam mais fiéis ao tratamento” e tenham uma qualidade superior aos demais. “Você tem dois genes que podem afetar, por exemplo, a dosagem necessária para o paciente. Essas informações genéticas podem ajudar na gestão de doses ideais”.
Os biomarcadores foram citados por Donna como uma estratégia moderna no desenvolvimento dos testes clínicos. Eles são a resposta do organismo a um tipo de fármaco, e podem ser fisiológicos, físicos ou anatômicos. É necessário que este grupo de informações esteja devidamente atualizado para “evitar falsos negativos ou falsos positivos” em exames clínicos.
A inovação não assustou o farmacêutico Jailton Ferreira, do Hospital da Política Militar de Pernambuco. “Pra mim foi totalmente novo, mas a minha visão prática na aplicação seria mais na monitoração do tratamento e evolução da terapia”. O pernambucano avalia que, no ambiente hospitalar há um acompanhamento regular da evolução do paciente tratado, e por isso os tratamentos personalizados “ajudariam a estreitar essa relação ainda mais” porque o profissional atuaria de acordo com diagnósticos específicos, “de olho na segurança do paciente, e nas possíveis reações adversas”.
O estudante de farmácia da Universidade de São Paulo, Leandro Santos, admite que a farmacogenômica “parece coisa de filme”, mas é essencial conhecer pesquisas da área “para que o profissional esteja constantemente se qualificando”.
Carta de São Paulo
A qualificação do farmacêutico foi um tema repetido durante todo o congresso, e um dos pontos de destaque da Carta de São Paulo, lida na cerimônia de encerramento. Outros pontos importantes foram a implantação de disciplinas nos cursos de graduação que capacitem os farmacêuticos para o cuidado em saúde, o desenvolvimento de estratégias para a criação de padrão de embalagens, o fortalecimento da segurança do paciente em pesquisas clínicas, valorizar o papel do farmacêutico na gestão da farmacoterapia, e o estímulo do uso racional de medicamentos.
Ex-presidente do Sindicato dos Farmacêuticos no Estado de São Paulo e coordenador do programa Farmácia Popular do Brasil, do Ministério da Saúde, Marco Aurélio Pereira, faz um balanço positivo do 5º Congresso em relação as edições anteriores. “A gente ter conseguido ampliar o número de trabalhos, de profissionais inscritos, e principalmente o movimento internacional foi muito bom”.
Marco destaca ainda a “parceria fundamental” entre Ministério da Saúde, Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e Escola Nacional dos Farmacêuticos. “Nós conseguimos debater o uso racional de medicamentos e a segurança do paciente por diversas vertentes, de forma bastante ampla”.
Perspectivas para o futuro e encerramento
O maior desafio, de agora em diante, é “fazer esse debate ser transversal e que passe a fazer parte dos debates de saúde, é efetivar o que foi aprovado”.
Quem mais ganhou com a realização do Congresso, segundo Ronald Ferreira dos Santos, presidente da Federação Nacional dos Farmacêuticos, “foi a sociedade, que se debruçou sobre um tema bastante agudo, da materialização do direito à saúde, que é o acesso racional aos medicamentos, apontando diversos caminhos”.
Ciência e experiência se misturam numa perspectiva vitoriosa. “A lição que o Sinfar, que inclusive foi um dos organizadores, vai levar do Congresso é a mobilização de pessoas prontas a trabalhar em prol de uma mudança, de um objetivo. Isso mostra para nós, como sindicatos, que devemos encontrar mais pessoas disposta a isso”, avalia a Diretora do Sindicato dos Farmacêuticos no Estado de São Paulo, Priscila Vautier.
Segundo Vautier, “nós precisamos abraçar a causa do uso racional de medicamentos, trazer essas pessoas em conjunto e caminhar cada vez mais para a valorização do profissional”
Unir pessoas qualificadas em torno de uma mesma questão foi uma das qualidades da Escola dos Farmacêuticos reconhecidas pelos participantes. Presidente da Escola, Silvana Nair Leite, não economizou nos elogios. “Esse congresso consagrou o papel da Escola dos Farmacêuticos como uma instituição capaz de colaborar e promover eventos de qualificação profissional, de desenvolvimento de um novo patamar dos serviços de saúde”.
A missão do 5º Congresso de Uso Racional de Medicamentos, portanto, foi cumprida. Se fica a saudade, sobra entusiasmo e força para levar a ideia adiante: use medicamento racionalmente, para a sua segurança.
Leonardo Simões